Globalização da Energia Solar

Por
Wanderley Sandrini
23/09/2022

Terra planeta Sol: como a corrida global pela energia solar está pressionando a cadeia de suprimentos chinesa

Você vê na tv, no jornal, na propaganda do Instagram e no telhado do seu vizinho. Hoje em dia é impossível não ver um punhado de sistemas de energia solar em telhados espalhados por qualquer cidade brasileira. Um voo, um drone ou até uma volta pelo Google Earth podem te confirmar isso. Esse boom da energia fotovoltaica, do painel solar, não é exclusividade do Brasil, mas realmente nosso país está escalando rapidamente para se tornar uma potência no setor. Segundo a ABSOLAR, associação do setor, o Brasil já conta com 18.6 GW de energia solar instalados. Isso é igual a 1.5x a capacidade de Itaipu!

O Cenário Brasileiro

Se hoje a realidade brasileira é que o sol está realmente alimentando nossas tomadas, pouco tempo atrás era muito diferente. Crescendo num ritmo acelerado e descolado do resto da economia brasileira, a energia solar começou realmente lá em 2012 com a criação da famosa regra da GD, a resolução normativa 482 de 2012. Desde o marco legal já experimentamos crescimentos acima de 200% ao ano, que tem impulsionado o país para cada vez mais próximo do ranking de Top 10 países de solar do mundo. E a geração de energia através do sol não é só através do painel no seu telhado (ou do seu vizinho!). São muitos os projetos de sistemas solares em escala média em telhado ou em solo, para os comércios e indústrias, além das gigantescas usinas fotovoltaicas, as fazendas solares cultivando energia através do sol em vários hectares e fornecendo energia para a rede elétrica do Brasil.

Uma linha do tempo bem simples é assim:

  • Até 20 anos atrás, a energia solar era realidade só para satélites do Brasil

  • Nos anos 2000, o exército começou a desenvolver projetos solares em áreas remotas, desconectadas da matriz energética. Basicamente em áreas de floresta ou ilhas, para missões ou comunidades isoladas

  • Em 2012, com a lei da GD, foi criado a base para a instalação de pequenos projetos conectados à rede

  • Em 2016, impulsionado pelo governo através de leilões de energia especificamente para renováveis, surgiram as primeiras grandes usinas de energia solar no Brasil

  • De 2017 em diante notamos a escala e real mercado para energia solar descentralizada, na sua casa, comércio ou indústria.

Hoje a energia solar é uma realidade alcançável, pode ser contratada e instalada virtualmente ao alcance de todos no Brasil, mas, na verdade, estamos apenas num começo tímido. Embora haja uma Itaipu e meia de geração solar instalada, na verdade isso se refere a apenas 3% da demanda por energia elétrica do Brasil. Apenas 1.4% dos consumidores do Brasil, sejam pessoas ou CNPJs, utilizam diretamente energia solar. O boom da energia solar que vivemos não é nada perto do que veremos.

Perspectivas

Os números da energia solar no Brasil são impressionantes, é inegável, mas como disse lá atrás, nós nem somos um país Top 10 na geração solar. A China, campeã isolada, tem 17x mais energia solar que o Brasil. Os Estados Unidos, 6x mais. Mesmo a Alemanha, muito menor e com muito menos dias de sol no ano, tem 4x mais energia solar e é a líder em geração de energia solar per capita no mundo. A boa notícia é que nós brasileiros vemos e sentimos o sol muito mais horas por dia do que todos esses países na nossa frente. A matéria-prima, a insolação, é mais abundante aqui do que em qualquer lugar, e o mercado já percebeu isso. Até 2026 espera-se que o Brasil seja o 5º maior gerador de energia solar do mundo, com 54 GW instalados.

Não estamos sozinhos

A energia solar é renovável, é a nossa aposta para um futuro sustentável, mas enquanto o sol raia todo dia, a cadeia de suprimentos que minera, industrializa e fabrica todos esses equipamentos que convertem luz em energia elétrica tem um limite. São painéis solares, inversores, cabos, metal e uma cadeia logística que precisam crescer para dar conta da demanda humana por energia. Sim, o Brasil vai virar uma potência da energia solar, mas ele não é o único nessa corrida. No mundo inteiro, dos países mais nublados, como a Inglaterra, até os mais ensolarados, como a Arábia Saudita, todos estão promovendo, comprando e construindo mais projetos de energia fotovoltaica. O ritmo de crescimento brasileiro também está se repetindo pelo mundo todo. Essa demanda global está crescendo muito mais rápido do que a oferta de material, e é nessa hora que todas as empresas e países se voltam para o único país que tem conseguido resolver essa questão, a China, a fábrica do mundo. Eles são os responsáveis por fabricar e distribuir a massiva maioria de painéis e inversores para si mesmos e para o mundo. Sem negócios com a China, nós não veríamos nem fração do que temos de energia solar no Brasil hoje, então não podemos desprezar o maior parceiro para seguirmos nesse boom da economia sustentável.

Futuro solar

Se toda a cadeia de suprimentos para energia solar está na China, isso é fruto de décadas de planejamento e investimento em escala, que proporcionaram a segurança de que teremos painéis solares sendo fabricados e exportados para o Brasil em quantidade crescente. Felizmente isso já está claro para toda a cadeia de fabricantes da China, assim como para o governo chinês. Todos os Top 10 fabricantes de equipamentos para solar têm anunciado crescimentos massivos da capacidade de fabricação, por vezes da ordem de crescimento de 10x em poucos anos. Igualmente a cadeia de matéria-prima está estourando: A mineração de silício e alumínio, e a fabricação de vidro e microchips conta com suporte e investimento direto do governo chinês. A China é indiscutivelmente a potência econômica fabril do mundo. Eles sabem disso e se movem rápido para que essa seja a sua fonte de influência. Nosso mundo conectado não consegue abrir mão dos nossos equipamentos eletrônicos, precisamos de energia elétrica para ligar nossa tv, celular, computador... também temos carros elétricos, em breve teremos aviões elétricos, e muito mais. Tanta demanda só pode se cumprir se uma fonte de energia tão gigantesca como o sol for nossa fonte estratégica, e hoje já temos a certeza, pelo menos pelos próximos anos, que a fábrica chinesa continuará sendo nossa parceira nessa caminhada ao sol.

Por Wanderley Sandrini, Head de Vendas da GCL no Brasil, uma fabricante chinesa Top 10 no mercado de painéis solares no mundo. Possui 5 anos de experiência como especialista em business fotovoltaico da China, MBA em Inovação em Negócios e atua no segmento de COMEX e Energia Sustentável.

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